Imprimir | Enviar para um amigo

Comida, memória e sociabilidade no famoso Bar Palácio.

O livro “Bar Palácio”: uma história de comida e sociabilidade em Curitiba é fruto da pesquisa da dissertação de mestrado de Mariana Corção defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Paraná. Maria Corção busca apresentar, por meio de relatos, imagens e fontes diversas, o lugar da comida, da memória e da sociabilidade no famoso Bar Palácio de Curitiba cuja inauguração se dá em 1930.

Situando o papel da alimentação em estudos históricos, Mariana procura aprofundar questões ligadas à questão da identidade, memória e tradição. Neste sentido, é interessante a sua análise de que no início o Bar Palácio, representava a inovação no modo de servir os pratos. Mesmo sem “luxo” o espaço era considerado aristocrático já que o comer fora representava certa sofisticação à época e o Bar Palácio se estabelecia como um local ideal para isso. Passados os anos, o Bar é reconhecido pela tradição, o que o torna espaço de identidade com a cidade de Curitiba.

Aliando o contexto histórico do desenvolvimento urbano da cidade e evidenciando como as mudanças foram importantes para se entender as relações de convivência nos espaços públicos e privados, e como o Bar Palácio se situa nesse processo, Corção traz relatos de freqüentadores do estabelecimento desde os seus primórdios, como é o caso de Baruch, um dos clientes mais antigos do Bar. Todos os relatos, dadas as peculiaridades de cada um, vão se revelando como eixos condutores entre o passado e o presente, de uma Curitiba em desenvolvimento, dos trens, da boêmia, dos freqüentadores “importantes” como intelectuais, artistas e políticos.

Outro ponto que merece destaque é a questão da mulher neste espaço de sociabilidade. Por meio da voz da entrevistada Isabel Cristina, Corção traz detalhes sobre um fato que até hoje circula nas rodas de conversa quando se faz referência ao Bar Palácio: o de que mulheres não poderiam ser atendidas desacompanhadas. Corção mostra como essa “regra” comumente reproduzida pelos garçons até 1984 muda quando um grupo de mulheres resolve se posicionar.

E já que o assunto é comida, Mariana Corção não deixa de fora os pratos que tornaram emblemático o Bar Palácio e junto a eles estão os garçons que representam agentes sociais importantes no processo de construção de uma identidade repleta de tradição. Fotos das preparações despertam o nosso olhar e aguçam a curiosidade sobre a origem e o modo de fazer de pratos como o Frango à Crapudine, que é um frango assado e regado com molho especial (cujo aroma invade as imediações do entorno do Bar, despertando sensações olfativas e de memória), o famoso Mignon à Griset que é feito à moda francesa servido com ervilhas e batatas Griset e talvez o mais emblemático dos pratos o Churrasco Paranaense que é um filé grelhado temperado com sal, vinagre, alho e água. Receita simples, mas que conserva todo um modo de fazer, de prepará-lo à vista do cliente, de apresentar e servir. Se toda refeição se encerra com a sobremesa, no Bar Palácio não seria diferente. O mineiro de botas que vem fumegando a mesa, cujo nome de confunde com a origem de famoso doce mineiro com alguma variação, fecha a refeição do Palácio com queijo, goiabada, ovos, banana e açúcar, tudo flambado ao rum na frente do cliente.

Editado pela Máquina de Escrever, o livro “Bar Palácio: uma história de comida e sociabilidade em Curitiba” de Mariana Corção insere-se nos estudos de história e cultura da alimentação valorizando o campo de estudos e apresentando possibilidades de se pensar a história, a partir de questões como a importância do alimento como mantenedor de espaços de sociabilidade e memória cujos reflexos incidem na construção de identidades e permanências.

SABRINA DEMOZZI
Mestranda em História/UFPR

CORÇÃO, Mariana. Bar Palácio: uma história de comida e sociabilidade em Curitiba. Curitiba, Máquina de Escrever Editora, 2012.

 

 

Universidade Federal do Paraná - História da Alimentação