10/11/2013 | Comidas típicas piauienses na Universidade Federal do Paraná.
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A Profa. Dra Samara Mendes Araújo Silva apresenta em Audiência Pública os resultados do trabalho de pesquisa intitulado: Comidas Típicas Piauienses - Sabor e História Local: um estudo das práticas culturais sertanejas a partir da História e Cultura da Alimentação (1970 a
2000), bem como, das atividades realizadas durante o período de desenvolvimento do pós-doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná.
A audiência pública será presidida pela Professora Dra Marionilde Brepohl de Magalhães responsável pelo acompanhamento da pós-doutoranda.
Data: 14 de novembro de 2013
Horário: 14:00hs
Local: Departamento de História da UFPR, Ed.D.Pedro I, 6° andar, sala 612.
RESUMO
A ruralidade faz parte da realidade sertaneja desde a formação da sociedade (séc. XVI) e mesmo na contemporaneidade (séc. XX) as interfaces e interferências se perpetuam no contexto citadino. Tal situação é de modo evidente quando analisada a realidade sócio-econômica e cultural piauiense, onde permanecem imiscuídos os preceitos, comportamentos e normatizações originárias (resguardadas as devidas proporções e ajustes temporais) do espaço rural. As vinculações com meio rural e o passado agro-pastoril fazem do cenário piauiense um local ímpar quanto à preservação das tradições culturais sertanejas ainda que seja em meio urbano, mesclando-se e adaptando estas tradições originárias do campo ao espaço da cidade. Tal constatação nos foi perceptível procedendo a investigação sobre a permanências e transformações das práticas culturais sertanejas, e, para oferecer sustentabilidade a conformação histórico-social evidenciada, apoiamo-nos em fontes diferenciadas, abalizando esta pesquisa nos referenciais da História Cultural, tendo a História e Cultura da Alimentação como horizonte norteador das reflexões traçadas. Constituímos para análise do cenário histórico piauiense seis configurações sociais (Elias), as quais se desdobram em muitas outras figurações e encenações sócio-culturais, através de seus atores sociais que as presentificam, atualizam, ressignificam cenários, símbolos, composições, etc. presentes no recorte temporal de 1970 a 2000 e que chegaram ao século XXI, denotando a presença de tais tradições sertanejas no ambiente citadino. São elas: a manutenção da centralidade do grupo familiar e formas de união deste; a manutenção da importância do lugar social da casa e dentro deste a centralidade da cozinha; o processo de urbanização ocorrido tardiamente no Piauí; a idealização do sertão transportada para cidade; a permanência de tradições alimentares de comidas simples, fortes e a maioria feita à base de carnes vermelhas; aversão a qualquer espécie de desperdício, principalmente o alimentar. Compreendendo que as tradições e práticas alimentares enquanto integrantes das ações sociais e, portanto, “como elementos simbólicos ou ideológicos e suportes de práticas culturais” (MENESES e CARNEIRO, 1997, p.11) onde tais práticas comportam em si diversas formas de sociabilidade e controle social, revelando o processo histórico de civilidade humana, revelaram a estrutura da vida cotidiana, uma vez que “a comida expressa as relações sociais e é muito mais do que um simples ato de alimentar-se. Ela é um código elaborado e complexo que permite compreender o sentido de uma sociedade, [...].O fundamental é que o ato de comer cristaliza estados emocionais e identidades sociais.” (ROLIM e GIMENES,2007,p.02-03). E, porque revela os encobrimentos, os apagamentos e as valorizações das “marcas” históricas de um ou outro grupo social produzidos num determinado contexto, “as cozinha locais, regionais, nacionais e internacionais são produtos da miscigenação cultural, fazendo com que as culinárias revelem vestígios das trocas culturais. [...]. que a cozinha é também um espaço de desaparecimentos, de perdas e destruições” (SANTOS,2005,p.12;14). E que uma comida típica é um patrimônio histórico-cultural de uma sociedade. E o que diferencia um alimento qualquer de uma comida típica é a congregação e justaposição de duas condições: historicidade e cotidianidade do seu consumo. Desta forma, comida típica resguarda estreita relação entre seu preparo e consumo com o contexto de formação sócio-histórico e cultural da sociedade que a consome, ou seja, aqueles que a consomem sabem as origens (lendárias ou históricas) do alimento e seu sabor remete a lembranças e lugares específicos associados ao contexto histórico-cultural que tem significados específicos para os sujeitos oriundos da região de onde comida é originária. Associado a isto se tem a manutenção do consumo da comida no cotidiano do ambiente doméstico das casas da sociedade na qual a comida se originou, ou seja, seu preparo é acessível, feito e apreciado pela a maioria dos sujeitos integrantes do grupo referenciado, integrando assim com regularidade seus hábitos alimentares, o que estabelece a relação de cotidianidade com o alimento. Implicando deste modo na manutenção da comida na contemporaneidade – ainda que oriunda de um passado histórico – por conta de sua presença e significado cultural, histórico e alimentar, sofreu adaptações as contingências sócio-culturais e foi sendo ressignificada, assegurando seu consumo assíduos entre os sujeitos que constituem o grupamento social. E quando consumida evoca rememorações do passado histórico ou familiar, levando seus degustadores, por vezes, a comentar essas memórias o que permite as novas gerações: vivenciar por meio da comida o passado histórico da sociedade na qual se inseri; valorizar o alimento enquanto patrimônio cultural desta mesma sociedade, além de constituir o gosto e a estética alimentar. Então, identificamos como patrimônios culturais da sociedade piauiense as comidas típicas, ou seja, aquelas que estão presentes em todo o estado são: maria-izabel (em suas diferentes versões, com diferentes tipo de carne, sendo a principal a com carne de sol); paçoca (carne de sol e farinha de mandioca); pirão de parida (galinha caipira e pirão de farinha de mandioca) e cajuína (suco de caju clarificado sem adição de açúcar). Além de algumas comidas típicas que tem o consumo registrado em regiões específicas do Piauí, bem como doces e comidas que são utilizadas como remédios caseiros.
Palavras-Chave: História e Cultura da Alimentação – Cultura Sertaneja – Comidas Típicas – História Local – História do Piauí.
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