Era
só feijão, feijão...
O consumo diferenciado de feijão
no Brasil
Autor: Carlos Roberto Antunes dos Santos
- Professor Titular em História do
Brasil-UFPR. Publicado em: Super Interessante, ed. 204,
setembro de 2004, “Qual o feijão
mais popular do Brasil”, em categoría
de fonte.
No Brasil há grandes variedades de
cores, tipos e tamanhos de feijão,
como o preto, mulatinho, branco, feijão
de corda, carioquinha, vermelho, roxinho,
fradinho, manteiguinha e outros, colhidos
em 3 safras anuais. De acordo com dados
oficiais, em algumas cidades brasileiras
está diminuindo o consumo como Goiânia,
Porto Alegre, S. Paulo, Belém, e
Recife, enquanto se come cada vez mais feijão
em Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro
e Salvador. O brasileiro consome em média
16 quilos por ano.
A questão do gosto diferenciado do
brasileiro por tipo de feijão em
algumas regiões pode estar ligado
à própria história
local ou regional, como em Minas aonde o
tropeirismo foi importante, e o feijão
preto era misturado com farinha de mandioca
e guarnecido com pedaços de lingüiça
frita e torresmo (toucinho). Este feijão-de-tropeiro
era mais seco, com menos caldo, devido aos
deslocamentos constantes, próprios
do tropeirismo. Já o feijão
carioquinha misturado à farinha de
mandioca e com caldo, era comida dos bandeirantes,
que a levava em farnéis. Esta é
a origem do virado a paulista, prato feito
com o referido feijão. No Rio de
Janeiro o feijão preto é o
grande preferido, pois constitui o ingrediente
basilar da feijoada, prato do séc.
XIX, muito apreciado pelos cariocas. Mas
o feijão preto não é
consumido largamente no país, pois
representa apenas 20% da produção
brasileira. Na Bahia, a culinária
baiana impõe outros ingredientes
como o azeite-de-dendê, tipos diversificados
de temperos e pimentas, etc., que pedem
outros tipos de feijão. Na Bahia
há o predomínio do feijão
mulatinho que é usado até
na feijoada, sendo que o feijão fradinho
é utilizado no acarajé e no
abará. Em parte do Nordeste, o feijão-de-corda
misturado ao arroz produz um prato muito
popular chamado “baião-de-dois”.
Em Belém o feijão tipo manteiguinha
(variedade do feijão branco americano)
é muito utilizado, sendo trazido
a esta região por Henry Ford na áurea
época da produção da
borracha na Amazônia.
Um outro prato que deve ser citado é
o tutu-de-feijão, engrossado com
farinha de mandioca, próprio da cozinha
caipira mineira, mas com diversas variações
em outros estados. De maneira geral pode
ser preparado com feijão preto ou
vermelho, sendo que em Minas vem acompanhado
com pedaços de lingüiça
frita, no Rio de Janeiro é coberto
com molho de tomate, e em S. Paulo serve-se
coberto com ovos fritos, torresmos e costeletas
de porco.
Ainda que em muitas regiões a história
basta para dar explicações
ao gosto próprio por determinado
tipo de feijão, entende-se que a
formação de um padrão
alimentar também conta com outros
fatores como de natureza cultural, ambiental,
sociológica, antropológica,
de viabilidade de plantio, colheita, distribuição
e preço, e tantos outros, para explicar
o consumo diferenciado deste produto no
território nacional.
carlos@ufpr.br
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